Introdução
Especificamente, sistematiza
e problematiza o debate recente sobre a relação
entre desenvolvimento e meio ambiente,se detendo sobre tópicos como: os
fundamentos críticos ao modelo de desenvolvimento econômico dominamente no mundo ocidental e difundido para o
terceiro mundo no pós segunda guerra; a construção do conceito de
desenvolvimento sustentável; as principais interpretações da crise
sócio-ambiental dentro do pensamento ambientalista mundial e sobre avaliações
dos avanços,limites e dilemas da nova concepção
de desenvolvimento.O objetivo é resgatar a discussão crítica sobre a
questão ambiental que se reveste de singular complexidade e lança ameaças ao
destino da espécie, no longo prazo, caso não se formulem respostas adequadas
aos desafios colocados.
Diferentes tendências no pensamento ambiental
Conforme o número de
pessoas, grupos e instituições a reconhecer a legitimidade da questão ambiental
e a defender sua inclusão na agenda dos assuntos socialmente prioritários. No
entanto, se algum consenso já existe sobre pontos elementares, o mesmo não
pode-se afirmar sobre as interpretações concernentes á origem e possíveis
respostas ao problema.Apesar do risco de simplificação inerente aos processos
de classificação, tentar-se-á apresentar uma diferenciação das perspectivas
básicas predominantes no pensamento ambientalista.Tem-se, assim,quatro categorias
básicas que podem , eventualmente , se ramificar, ampliando o número de
variações possíveis.O antropocentrismo pode ser resumido como a tendência
ético-filosófica que percebe o ser humano como centro e senhor da
existência,num sentido em que todo o resto dos seres e processos orgânicos e
inorgânicos adquire valor comparativamente ao homem e à utilidade que possam
lhe proporcionar.O biocentrismo,contrariamente,nega o antropocentrismo e
defende uma relação de valor intrínseco à natureza,desvinculando de conotações
utilitárias.Assim,segundo a classificação,teríamos,em primeiro lugar,a posição
eco capitalista que se caracteriza por reunir princípios antropocêntrico e
individualistas.Representa a posição econômica
e politicamente dominante dentro do ambientalismo global.Reconhece a
questão ambiental como um subproduto indesejável do processo,mas perfeitamente
ajustável dentro da ordem capitalista e que dispensa quaisquer mudanças mais
profundas.Sinteticamente,alguns ajustes demográficos e tecnológicos seriam
suficientes para superar o problema.Compreende o enfoque de mercado , que julga
o livre jogo entre produtores e consumidores capaz de avançar na direção de uma
sociedade sustentável.
A ecologia
Ecologia social reúne
características antropocêntricas e coletivistas. São críticos do “status quo” e
pensam que os grandes responsáveis são o capitalismo industrial e elementos
dele decorrentes, ou mesmo inerentes, como a desigualdade social e política,a
razão instrumental, a ética individualista e o gigantismo das soluções
econômicas e tecnológicas.
seguinte refere-se aos ecocêntricos, ou
biocêntricos de tendência individualista. Para os representantes desta
tendência a natureza tem valor intrínseco independentemente da utilidade que
tenha para o homem. Defendem a igualdade de todas as espécies, dentro da
comunidade biótica e uma nova ética que substitua os valores antropocêntricos.
Dispensam pouca atenção às questões sociais e políticas, sendo mais tendentes a
uma visão espiritualista, onde a natureza assume uma importância central.
Também conhecidos como fundamentalistas, deep ecology (ecologia profunda) pelo
radicalismo de suas posições e pelo combate a outras correntes ambientalistas
que consideram superficiais.
O alternativismo reúne movimentos pioneiros no
ambientalismo, que inclui pacifistas antinucleares, críticos da ciência e do
modelo industrial-consumista que vieram desembocar nos movimentos hippies e da
contracultura. Os neomalthusianos focalizam sua atenção sobre a questão
demográfica, na relação entre crescimento populacional e degradação ambiental e
na defesa do controle da natalidade para evitar os problemas ecológicos. Seus
expoentes são Garret Hardin e o casal Erlich, que chegam inclusive a sugerir
que o terceiro mundo é muito prolífico e, portanto, responsável pelos grandes
problemas ecológicos. Discutem, nessa direção, a proposta de suspender qualquer
política de ajuda aos países pobres e o congelamento do crescimento
populacional como única forma de enfrentar a questão sócio-ambiental.
O resultado insatisfatório,
colhido das experiências práticas e das construções teóricas de desenvolvimento
econômico, permitiu, através de sucessivas avaliações, o surgimento de novas
propostas, que findaram convergindo para a concepção de desenvolvimento
sustentável
A construção do
conceito de desenvolvimento sustentável
Analisar
a construção e emergência do conceito de desenvolvimento sustentável é
compreender os processos objetivos e subjetivos que levaram à consciência do
esgotamento do modelo de desenvolvimento, experimentado nas últimas décadas, e
da necessidade de uma nova concepção.
Conforme
mencionamos acima, a multiplicação de acidentes e problemas ambientais e a ação
do movimento ecológico, sobretudo a partir da década de 1970, compõem uma força
crítica aos modelos de desenvolvimento industrial, tanto capitalista, quanto
socialista, e despertam uma nova consciência, atenta à dimensão O relatório
parte do pressuposto da possibilidade e da necessidade de conciliar crescimento
econômico e conservação ambiental e divulga o conceito de desenvolvimento
sustentável e um conjunto de premissas que desde então tem orientado os
debates sobre desenvolvimento e questão ambiental. Nesse contexto, o
desenvolvimento sustentável é definido como aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras também atender
as suas. (Guimaraens 1991)
A crítica e os
dilemas do desenvolvimento sustentável
O conceito de
sustentabilidade inova também ao valorizar os problemas das relações norte-sul,
e, sobretudo as especificidades dos países pobres, quando relaciona pobreza,
riqueza e degradação, quando atenta para as implicações adversas da dívida
externa no contexto sócio-ambiental desses países, inclusive reconhecendo a
desigualdade norte-sul e a maior responsabilidade relativa dos países do norte
na construção de um desenvolvimento sustentável. Registra, ainda, a maior
predação relativa dos nortistas e os prejuízos que o seu crescimento trouxe
para os países do sul
Do
ponto de vista daqueles que criticam o conceito, a ênfase recai sobre suas
ambigüidades e contradições, e são muitas as vulnerabilidades apontadas.
Pode-se afirmar, para fins de síntese, que os principais ataques à proposta se ramificam em torno de
algumas perguntas essenciais como: a) é realmente possível conciliar
crescimento econômico e preservação ambiental, no contexto de uma economia
capitalista de mercado ? ( ver socialismo adiante); b) Não é o desenvolvimento
sustentável apenas uma nova roupagem para uma proposta já superada? ( e neste
caso se trataria de mudar na aparência para conservar na essência); c) em não
havendo consenso sobre o que é desenvolvimento sustentável e sobre como
atingi-lo, qual interpretação será privilegiada, a visão estatista, de mercado
ou da sociedade civil ?; Como atingir eficiência econômica, prudência ecológica
e justiça social em uma realidade mundo extremamente desigual, injusta, e
degradada? como passar da retórica à ação? Estão os países desenvolvidos e as
elites das nações subdesenvolvidas dispostas à mudanças e sacrifícios? Podemos
apenas especular sobre estas questões, não respondê-las.
Como
esclarecimento, é necessário colocar que quando nos referimos aos problemas
ambientais das sociedades e economias capitalistas não queremos sugerir que as
sociedades socialistas sejam diferentes nesse aspecto.
Considerações
finais
Os
maiores desafios se concentram, de fato, no processo de materialização da
sustentabilidade, ou seja, na transformação da filosofia e do discurso em ação
e realização. Assim, o sonho de uma sociedade sustentável é não só desejável
como necessário e o desafio é torná-lo realidade. Nesse processo encontram-se
os verdadeiros obstáculos e aparecem as grandes discordâncias sobre como
construir um desenvolvimento multidimensional, que integre justiça social,
sustentabilidade ambiental, viabilidade econômica, democracia participativa,
ética comportamental, solidariedade e conhecimento integrador. Como fazê-lo?
Haverão, certamente várias maneiras de conceber, tanto o desenvolvimento
sustentável, quanto o método para realizá-lo. Qual delas será a hegemônica? E
na construção do desenvolvimento, o que é prioritário? A economia, a ecologia,
a qualidade da vida humana? Que valores orientarão estas escolhas? Existem
ainda mais perguntas que respostas , e o tipo de desenvolvimento que teremos
dependerá da qualidade das respostas processadas no jogo social entre o
mercado, a sociedade civil e o estado.
Ao
que parece as respostas a tais perguntas vão depender do nível e da qualidade
da consciência pública, de sua percepção da realidade e dos problemas vividos,
e de sua capacidade de organização para impulsionar mudanças no sentido de uma
sociedade verdadeiramente sustentável. Dependerá igualmente da habilidade dos
movimentos sociais, em sentido amplo, em atrair forças, em estabelecer alianças
e de liderar um processo que torne a filosofia da sustentabilidade - em seu
sentido mais avançado - em uma alternativa real de desenvolvimento social.
Referencias
Lima, Gustavo F. da Costa Lima. O debate da sustentabilidade na sociedade
insustentável. Setembro 1997/p. 201-202.
Almino, João. Naturezas
Mortas. Brasília, Fundação Alexandre Gusmão, 1993.
Barros, Flávia Lessa. Ambientalismo, Globalização e Novos Atores Sociais. In: Sociedade e
Estado, vol. XI, Brasília, 1996.
Benjamin, Cesar. Diálogo sobre ecologia, ciência e politica. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1993.
Bernardo, Maristela. Impasses Sociais e Politicos em torno do
Meio Ambiente. In: Sociedade e Estado. Brasilia 1996.
Por: Natalia Vanessa Martins
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